A pintura de Benedito Nunes se expressa no campo do realismo. Vem enfocando momentos da vida urbana e periférica de Cuiabá ou a paisagística do Centro-Oeste. E junto a isso, também rumina seus próprios enfoques de vida. Não é expansivo tal Gervane nem narrativo quanto Dalva. Faz um percurso mais lento e mesmo mais intimista na busca de suas próprias indagações referenciais. Nesse percurso, digamos, o artista aprendeu a metafisicar visões em problemas banais. Não raro, ao acordar, encontra na desordem da prancheta ou do quarto, na vista da janela, um assunto pronto a trabalhar, juntar enredos. O terreno da casa paterna é disputado pelas imobiliárias, um incidente no emprego e o caso de investigação. O clima das visões pode transitar por associações reais ou imaginárias, entre o realismo visual ou intelectual, isto é, entre o que existe e o que sabe existir.
O artista encontra sua linguagem a partir de 1980, através do reconhecimento da própria especialidade e suas circunstâncias. Percebe as desorganizadas transformações sociais promovidas pelas ocupações caóticas, o perfil da cidade que rápido se modifica e verticaliza paredões enquanto uma cultura popular se marginaliza pelas margens ribeirinhas junto aos esgotos. Nos inícios da procura formal chega a utilizar a fotografia, valendo-se do enquadramento da objetiva para o aproveitamento dos cortes compositivos. Mas sem requintes de precisão, ao contrário beirando o Kitsch, Nunes desenvolve uma espécie de hiper-realismo visto pelo olho caboclo. Nesse âmbito, produziu telas curiosas, com visões sempre honestas, algumas inesquecíveis no imaginário da arte mato-grossense. Flagrantes que abordam do salão de beleza da irmã, na sala de sua casa, ao açougue, a oficina de automóveis que ele abandonara para abraçar a pintura.
Com o tempo o desenho ganha desenvoltura e a ótica realista trabalha ampliações de detalhes em torno dos mesmos assuntos.
Nos últimos três anos a pintura de Benedito Nunes consegue vencer as limitações técnicas, formais e estilísticas, alcançando desenvoltura na objetividade expressiva. Bons momentos são obtidos com mais facilidade. Acrescenta ao ternário as paisagens do cerrado. A ótica aproximada mostra troncos retorcidos, formigueiros e detalhes de impacto em telas de grandes dimensões. Também, pequenas telas estreitas e horizontais focalizam arbustos e cercas de arame farpado. Muito Sensíveis.
Aline Figueiredo *Para a Exposição “Benedito Nunes em 50 obras”, individual de Benedito Nunes realizada virtualmente, dentro do programa “ A Importância da Cultura nos 50 anos da UFMT”, e faz parte da 14 Primavera dos Museus coordenada pelo IBRAM.[1]
[1] https://culturaufmt.wordpress.com/2020/09/23/benedito-nunes-em-50-obras/: acesso em 10/05/2021.
“Tributo ao Mestre do Cerrado: Benedito Nunes” é um projeto selecionado no edital Mestres da Cultura, realizado pelo Governo de Mato Grosso via Secretaria de Estado de Cultura, Esportes e Lazer.
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